Júnior e Cristine

 

O som dos saltos de Helena ecoava pelo hall silencioso. A cada passo, sua presença se fazia sentir como um perfume raro. Ela vestia uma calça branca justinha, que abraçava suas curvas com precisão cirúrgica. A camisa social preta de manga longa, rendada, insinuava mais do que mostrava — revelando a pele morena em pequenos detalhes, enquanto mantinha a elegância de uma mulher que sabe o próprio poder. Por cima, um sobretudo preto, longo, estruturado, que realçava sua postura e o ar de mistério que carregava.

 Ela era uma mulher decidida, advogada respeitada, mente afiada e presença marcante. Uma mulher de postura elegante e olhar penetrante. Mas ali, diante do espelho do elevador espelhado, ajeitou os cabelos com dedos firmes, conferiu a maquiagem e respirou fundo. Sabia onde estava indo. E quem a esperava.

 Décimo andar. Quando as portas se abriram, o perfume dele a envolveu antes mesmo de sua imagem.

 Lá estava ele: Rafael D'Alencar.

 Homem. Com H maiúsculo.

 Imponente, alto, ombros largos, terno escuro impecável, e um cabelo… impossível de ignorar. Grisalho, com volume e um caimento sedoso, não era longo, mas tinha movimento. Um toque de rebeldia domada com classe. A barba — bem cuidada, salpicada de prata — dava a ele um ar de sabedoria e perigo. E a voz…

 

Grave. Aveludada. Cada palavra saía como uma carícia no ar, uma promessa não dita.

 — Doutora Helena… — disse ele, com aquele meio sorriso que fazia qualquer mulher esquecer a pauta da reunião. — Belo Horizonte ficou mais bonita hoje. Você sabe o que causa quando entra em qualquer lugar, não sabe?

 Ela respirou fundo. “Controle, Helena. Controle.” Mas era difícil manter o foco com aquele homem à sua frente, tão absurdamente bonito e afrodisíaco em cada detalhe.

 — Boa tarde, doutor Rafael. Vim tratar de negócios.

— E eu sempre achei que prazer e negócios pudessem andar juntos...

O escritório dele era amplo, minimalista, mas com personalidade, com uma vista incrível da capital mineira. Estantes escuras, livros jurídicos, mesa robusta de madeira nobre, uma vista generosa da capital mineira. E ele ali, sentado como se fosse o dono do cenário inteiro.

Durante minutos, conversaram sobre o caso. Ela se esforçava para manter o tom profissional, mas a tensão pairava, quase sólida, entre eles. A forma como ele a olhava, como mordia levemente o lábio inferior quando refletia, como se inclinava para perto dela ao mostrar um documento… tudo nele era provocação sem esforço.

— Quer um café? — ele perguntou, com aquele olhar que misturava respeito e desejo. Antes mesmo da resposta, ele já se movia com elegância, os ombros sob a camisa alinhada transmitindo poder e suavidade.

Ela o observava. E, pela primeira vez em muito tempo, se sentiu desarmada. Não porque ele forçava isso. Mas porque ele convidava — com os olhos, com a presença, com a voz que parecia tocar por dentro.

Quando voltou com o café, parou ao lado dela.

— Sabe o que mais me impressiona em você, Helena? — sussurrou, aproximando-se até que a distância entre eles se dissolvesse. Ela sentiu o calor da respiração dele roçar seu pescoço, provocando um arrepio lento que percorreu sua espinha. Os olhos dele estavam fixos nos dela, intensos, como se pudessem atravessar suas defesas. O perfume amadeirado que exalava de Rafael se misturava ao calor do ambiente, criando uma atmosfera densa, carregada de expectativa.

O olhar dele era como uma corrente elétrica, acendendo cada centímetro da pele dela. Ela mal piscava, como se cada gesto dele comandasse seus sentidos. Um nó morno se formou em sua barriga. Seu corpo reagia antes mesmo que ela compreendesse a razão.

Quando ele falou de novo, a voz veio ainda mais baixa, como se fosse um segredo partilhado apenas entre os dois:

— Esse equilíbrio… entre força e desejo. Entre razão e pele.

Helena sentiu a garganta secar. O que ele dizia era mais do que palavras — era um espelho do que ela lutava para controlar. Um lembrete de que ela podia ser racional com o mundo inteiro… menos com ele. Ali, tão perto, o controle era apenas uma ilusão.

— Diga que não, e eu paro agora. Mas se disser nada… eu vou te provar o que é perder o controle com classe.

Ela virou-se devagar. Não disse nada.

E se rendeu.

A mão dela foi até a gravata dele, puxando com firmeza. A boca dele encontrou a dela com precisão. O beijo era profundo, denso, molhado. As mãos de Júnior percorriam sua cintura, suas costas, descobrindo cada curva com desejo represado por tempo demais.

 Helena sentou-se sobre a mesa, ele entre suas pernas, o mundo lá fora desaparecendo pelas janelas do décimo andar. Papéis voaram. Ele a pegou pelas coxas com firmeza. Boca no pescoço, mãos explorando com fome. Ele não a tocava apenas — ele a sentia. Com intensidade. Com entrega. Com verdade.

E ela… ela queria ser sentida. Queria ser devorada por aquele homem.

As roupas se desfaziam como se não tivessem mais serventia. A camisa rendada dela escorregou pelos ombros com lentidão. As mãos dele se firmaram em sua cintura, a boca buscando a dela e descendo, explorando cada parte com reverência e urgência.

A forma como ele a possuiu não era apenas sexo — era arte. Ele a devorava com olhos e corpo. Não havia palavras, só gemidos abafados, respirações que se tornavam uma só. Rafael a pegava com firmeza, guiava com precisão. Havia fome no toque, sede no beijo.

Helena arqueava-se a cada investida. O corpo dela gritava por mais. E ele dava — com força, com desejo, com entrega.

Naquele décimo andar, não havia mais leis, nem regras. Só o calor, o cheiro da pele, o som do prazer e o gosto da ousadia.

Horas depois, ela se ajeitava diante da janela. Agora, de sobretudo elegante fechado no corpo, a lingerie já não mais presente.

Rafael, ainda com a gravata solta e um olhar entorpecido de prazer, a observava em silêncio.

 

Helena  abriu a bolsa, tirou algo com a ponta dos dedos e se aproximou. Estendeu a mão para ele e entregou-lhe sua calcinha rosa clara — a mesma que ele tinha afastado com tanta sede momentos antes.

 — Pra você se lembrar de mim. — disse, firme, antes de roçar os lábios nos dele.

 Ele inspirou profundamente, sentindo o cheiro. Fechou os olhos por um instante. Quando os abriu, estava vidrado.

 — Impossível te esquecer, doutora. Mas com isso… vai ser ainda mais difícil me concentrar em qualquer outra audiência.

 — Preciso ir — ela disse, sem pressa, pegando a bolsa.

 — Então marque outro horário. A gente ainda tem… muitos detalhes pra revisar.

 Ela se virou antes de entrar no elevador e respondeu:

 — Esse processo está longe de ser encerrado, doutor Rafael .

 

As portas se fecharam. Mas no décimo andar, entre papéis, rendas e promessas, algo já havia mudado para sempre.

 

CONTINUAÇÃO...